“Permitam que as crianças leiam”
Pamela Kvilekval
Dificuldades de aprendizagem é um termo geral que se refere a várias desordens manifestadas nos processos de aquisição de leitura, escrita, fala, compreensão auditiva e raciocínio matemático. São intrínsecas ao individuo presumindo-se que sejam dificuldades funcionais relacionadas ao sistema nervoso central e podem ocorrer durante toda a vida.
O órgão privilegiado da aprendizagem é o cérebro. O cérebro humano é um sistema complexo, que estabelece relações com o mundo que o rodeia. Portanto as relações entre o cérebro e o comportamento e entre o cérebro e a aprendizagem, são as mesmas quando se aborda as relações com as dificuldades de aprendizagem (DA).
Faz-se necessário conhecer a estrutura e o funcionamento do cérebro para melhor compreendermos as suas relações dinâmicas e complexas na aprendizagem, porém este não é o foco deste trabalho, e sim conhecer melhor sobre a visão da reeducação da dislexia por uma abordagem estruturada.
Atualmente não se podem separar, os aspectos psicossociológicos ou psicoculturais dos aspectos neurofisiológicos ou neurobiológicos da concepção das dificuldades de Aprendizagem.
Quando se fala em dislexia, ainda é comum as pessoas reagirem: “O que é isso? Já ouvi falar mas não sei o que é”.
A Dislexia é uma dificuldade duradoura na aprendizagem da leitura e de seu automatismo, em crianças inteligentes, normalmente escolarizadas e livres de interferências causadas por disfunções visuais, auditivas ou lesões cerebrais. Também não pode ter como causa comprometimentos de origem emocional. Vem acompanhada quase que constantemente de grandes dificuldades na aquisição das regras de ortografia.
Segundo Ciasca (2004), é a falha no processamento da habilidade da leitura e da escrita durante o desenvolvimento. A dislexia como um atraso do desenvolvimento ou a diminuição em traduzir sons em símbolos gráficos e compreender qualquer material escrito é o mais incidente entre os distúrbios específicos da aprendizagem.
Para Cisca(2004) as dificuldades de aprendizagem ficam entre 5 a 7% e as dificuldades escolares entre 10 a 15%. Sabe-se que a incidência da dislexia situa-se entre 10 a 15% da população, sem distinção entre raças, culturas ou condição sócio-econômica.
As crianças disléxicas apresentam as seguintes dificuldades:
déficit perceptivo, transposições de letras e sílabas, inversões, substituições, inclusões, omissões, perseverações, confusões entre vogais, confusões entre sons surdos e sonoros.
Diante desta realidade a abordagem Panlexia foi estruturada com o objetivo de ensinar crianças com Transtornos Específicos de Linguagem através do uso de técnicas lingüísticas estruturadas.
O programa inicia-se com uma avaliação lingüística e fonológica para detectar as possíveis dificuldades citadas acima. A reeducação se da através de atividades propostas nos diversos níveis que compõe este método.
As atividades são planejadas de maneira progressiva e atendendo as necessidades individuais de cada um. Cada criança deve apresentar um desempenho preestabelecido para cada nível, respeitando seus limites e seu próprio tempo.
A abordagem Panlexia está estruturada em técnicas que inclui o treinamento para desenvolver a consciência fonológica tida como componente-chave para que o disléxico alcance o aprendizado da leitura e da escrita.
A abordagem Panlexia obedece aos seguintes pressupostos:
- é multisensorial,
- ensina explicitamente a correspondência entre grafema e fonema;
- a leitura e a escrita são ensinadas simultaneamente;
- é estruturado, porque existem procedimentos a serem seguidos, passo a passo, para introduzir, praticar e rever conceitos;
- é seqüencial e cumulativo.
- é flexível e se foca nas necessidades individuais de cada aluno.
Assim, usando as técnicas de ensino diagnóstico, a cada etapa do processo de aprendizagem, os professores monitoram continuamente o progresso dos alunos e provêem feedback constante iniciando ações corretivas imediatas para as falhas dos estudantes.
Trata-se, pois de um programa de reabilitação, sendo iniciado com uma avaliação lingüística e fonológica que analisa a capacidade real de um indivíduo, em codificar e decodificar as palavras.
Os cinco níveis do programa de reeducação Panlexia são:
- 1o nível: consoante/vogal: duas a três sílabas, acento agudo;
- 2o nível: consoante/ditongos e tritongos;
- 3o nível: encontros e grupos consonantais;
- 4o nível: letras que mudam os sons de outras letras. Dígrafo, cedilha, til;
- 5o nível: outras letras e sinais que alteram os sons em palavras: prefixos – sufixos – acentos: â – ã – ê – é – ó – ô – ü; vários sons da letra x, etc.
O método é composto de uma bateria de testes que realizam um levantamento das dificuldades do aluno para posterior trabalho com os cinco níveis do processo de reabilitação.
Os testes são Diagnóstico Lingüístico, Teste Fonológico, Screning de leitura e escrita.
A Escala De Inteligência Weschler Para Crianças-III também é utilizada no desenvolvimento do programa. Trata-se de um teste formado por doze subtestes que avaliam diversos aspectos da inteligência. Ainda que não tenha sido ainda desenvolvido um teste que meça todas as habilidades que se pensa constituir a inteligência, o teste WISC-III fornece uma avaliação das capacidades mais significativas para predizer o sucesso escolar.
Todas atividades são planejadas de maneira progressiva, buscando atender as necessidades individuais de cada criança e respeitando os limites e o tempo de cada uma.
REFERÊNCIAS
CAPELLINI, Simone Aparecida e OLIVEIRA, Karina Tamarozzi. Problemas de Aprendizagem relacionados às alterações de linguagem. In: CIASCA, Sylvia Maria (org.). Distúrbios de aprendizagem: proposta de avaliação interdisciplinar. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003.
CIASCA, Sylvia Maria. Distúrbios e dificuldades de aprendizagem: questão de nomenclatura. In: CIASCA, Sylvia Maria (org.). Distúrbios de aprendizagem: proposta de avaliação interdisciplinar. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003.
CIASCA, Sylvia Maria; CAPELLINI, Simone Aparecida e TONELOTTO, Josiane Maria de Freitas. Distúrbios específicos de aprendizagem. In: CIASCA, Sylvia Maria (org.). Distúrbios de aprendizagem: proposta de avaliação interdisciplinar. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003.
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GERBER, A. Problemas de aprendizagem relacionados à linguagem: sua natureza e tratamento. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.
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GUIMARÃES, Inês Elcione; RODRIGUES, Sônia D. e CIASCA, Sylvia Maria. Diagnóstico do distúrbio de aprendizagem. In: CIASCA, Sylvia Maria (org.). Distúrbios de aprendizagem: proposta de avaliação interdisciplinar. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003.
KVILERKVAL, Pamela. Um programa para dificuldades específicas de linguagem. Vol. 1 e 2. Curitiba, 2004.
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SANTOS, Cacilda Cuba dos. Dislexia específica de evolução. 2. ed. São Paulo: Sarvier, 1986.
TABAQUIM, Maria de Lourdes Merighi. Avaliação neuropsicológica nos distúrbios de aprendizagem. In: CIASCA, Sylvia Maria (org.). Distúrbios de aprendizagem: proposta de avaliação interdisciplinar. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003.